17 de dezembro de 2007

Comunidades de aprendizagem

De acordo com as concepções construtivistas da aprendizagem, a construção de conhecimento resulta de um processo de exploração, experimentação, discussão e reflexão colaborativa a cargo não só do aluno, mas também, no âmbito do grupo ou comunidade de aprendizagem. A formação de comunidades de aprendizagem é orientada para o desenvolvimento dos processos colaborativos, que compreendem a criação de uma cultura de participação colectiva nas interacções que suportam as actividades de aprendizagem. Neste sentido, a criação da comunidade de aprendizagem pressupõe que todos os membros do grupo e inclusivamente o professor, se encontrem envolvidos num esforço de participação, partilha e construção conjunta do conhecimento. As comunidades desenvolvem-se como centros de criação de conhecimento, nos quais a aprendizagem não é separada da acção, sendo os processos de aprendizagem orientados mais para a comunidade do que para o indivíduo, na medida em que a construção de conhecimento é uma elaboração conjunta de todos os membros.


O início de um curso online é decisivo para a construção de uma comunidade de aprendizagem. Nas primeiras semanas o professor tem um papel muito importante, ele deve incentivar e dar oportunidade aos alunos para participarem, encorajando-os. A timidez e a falta de confiança inicial devem desvanecer-se progressivamente. Neste sentido, para a manutenção destas comunidades online é necessário que os seus participantes se mantenham motivados para colaborar e cooperar. Os alunos devem sentir-se motivados a ser, mais activos, produtivos, responsáveis, críticos, criativos, autónomos e colaboradores nas suas aprendizagens. A partilha das ideias, dos conhecimentos, dos sentimentos, do esforço, do trabalho e da experiência de vida permitem a união do grupo. Estas relações estabelecidas numa comunidade de aprendizagem online são essenciais e demonstram bem a dimensão social da aprendizagem.


Assim, o funcionamento de uma comunidade de aprendizagem depende da eficiência com que os seus membros comunicam entre si. Todos os elementos devem interagir intensivamente, de forma a empenhar-se nas tarefas a realizar. Para isso, são necessários interesses, afinidades e objectivos comuns, além do desejo de partilhar conhecimentos e competências.


A estrutura e o funcionamento de uma comunidade de aprendizagem pressupõem a transmissão para os seus membros dos objectivos, métodos e estratégias de progressão das aprendizagens, transformando a comunidade num sistema complexo e adaptativo, cuja a primeira manifestação se realiza na negociação do sentido, na construção das representações individuais e nas reestruturações realizadas no âmbito das pesquisas colaborativas dos diferentes suportes de informação e das aprendizagens. Este modelo implica a utilização de ferramentas de comunicação, como o e-mail, os fóruns, chats e outros que possibilitem estabelecer um contacto rápido, por vezes em tempo real, entre alunos e professor. As comunidades de aprendizagem devem focar-se na construção do conhecimento privilegiando sempre o equilíbrio entre as necessidades individuais e as necessidades do grupo, tendo em conta a interacção entre os participantes, a interacção com o conteúdo, a interacção com o professor e a interacção com as tecnologias, como se vai abordar já de seguida.


Pallof & Pratt (1999) não mostram reservas quanto à potencialidade de uma comunidade de aprendizagem no ensino online:


“In distance education, attention need to be paid to the developing sense of community within the group of participants in order for the learning process to be successful. The learning community is the vehicle through which learning occurs online. Members depend on each other to achieve the learning outcomes of the course (…) Without the support and the participation of learning community, there is no online course”


Para aquelas autoras é fundamental promover o relacionaento entre os estudantes para que uma verdadeira comunidade de aprendizagem seja constituída através da:
· Interacção com os conteúdos do curso e interacção mais afectiva com os colegas;
· colaboração entre os alunos tendo com fim a aprendizagem mais partilhada;
· construção social do conhecimento;
· partilha de recursos entre colegas;
· motivação e apoio permanente entre alunos, bem como capacidade para avaliar criticamente as intervenções dos colegas.


O estímulo e a orientação da participação online são aspectos importantes para o sucesso do curso. Uma participação satisfatória no fórum de discussão, significa mais do que, mensagens a dizer “olá!” ou “concordo na íntegra…”. Cada mensagem tem de ser encarada como uma contribuição relevante para a discussão, essencial para a compreensão do tema que está a ser tratado e que em conjunto com todas as outras irá permitir a construção de conhecimento da comunidade. Outra questão importante, é o facto de ser também a partir das suas mensagens que cada aluno é avaliado, logo estas devem ser escritas com algum cuidado. Assim, o professor online, deve deixar explícitas as expectativas em relação à participação (Palloff & Pratt, 2001):
· O professor deve esclarecer a cerca do tempo que o curso requer para que as metas sejam cumpridas, para que não hajam mal-entendidos;
· o professor, deverá ser um bom modelo de participação, endereçando frequentes contribuições para a discussão;
· o professor deve introduzir-se na discussão sempre que esta tenha diminuído em quantidade e/ou qualidade, ou ainda se está se está a desenvolver numa direcção errada;
· em casos mais graves de falta de netiquette, o professor deverá endereçar uma mensagem privada de forma a esclarecer e atenuar os equívocos.
· quando se verificar a falta de participação recorrente de determinado aluno, este também deverá ser contactado em privado, para avaliar a causa do seu desinteresse. O professor deverá solicitar a participação, criando uma atmosfera acolhedora, que desenvolva o sentido de comunidade entre os participantes.


Assim, uma comunidade de aprendizagem, em que o grupo construiu uma identidade comum, com objectivos idênticos e em que os participantes interagem entre si de forma construtiva, para a respectiva resolução de tarefas que culmina na construção de conhecimento segue algumas etapas como consideram Kanuka & Anderson (1998):
· A partilha e comparação da informação disponível;
· explicitação dos diferentes pontos de vista;
· negociação das diversas concepções, encontrando os aspectos comuns;
· testagem, aperfeiçoamento, sintetize;
· resumo ou articulação da conclusão.


Kanuka, H. & Garrison, D. R. (2004). Cognitive Presence in Online Learning. Journal of Computing in Higher Education. Spring 2004, Vol. 15(2), 30-?.
http://communitiesofinquiry.com/documents/Cog%20Presence%20in%20Online%20Learning%20JCHE.pdf#search=%22Cognitive%20Presence%20in%20online%20learning%22


Palloff, R. M. & Pratt, K. (1999). Building learning Communities in Cyberspace: Effective Strategies for the OnlineClassroom. San Francisco, Jossey-Bass Publishers.

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